Ética e Ecologia numa Visão Espírita
Introdução ao tema
Como se acha ou em que pé se encontra a influência
mesológica dos seres humanos nas áreas onde vivem e atuam? Como eles
tratam
o meio ambiente de que todos dependem? O grande brasileiro Ruy
Barbosa,
ao seu tempo, já ensinava algo mais ou menos assim: se cada pessoa
limpar a
frente de sua casa, a cidade toda será limpa. Numa análise
macro-social,
sendo a Terra o nosso lar, se não nos preocuparmos com o seu equilíbrio,
como
será a nossa vida e a das futuras gerações? Faz parte do progresso do
ser humano
que ele próprio destrua seu habitat?
Todos os espíritas conscientes sabem que a moral é a
regra de
cada um conduzir-se no bem e, porque se funda na Lei Natural ou Lei de
Deus,
permite-nos facilmente distinguir o certo do errado. Compreendemos –
porque
todos somos dotados de razão e de livre arbítrio – que o ato por nós
praticado
só é moralmente correto quando visa ao bem geral, ou seja, ao bem de
todos, ao
bem coletivo. E como não queremos o mal para nós, não devemos desejá-lo
aos
semelhantes.
O grande físico do século 20, Albert Einstein, em
seu
livro "Como Vejo o Mundo" (Editora Nova Fronteira), afirma:
"E cada dia, milhares de vezes, sinto minha vida – corpo e alma –
integralmente
tributária do trabalho dos vivos e dos mortos. Sou realmente um homem,
quando
meus pensamentos e atos têm uma única finalidade: a comunidade e seu
progresso".
No livro "Renúncia", de Emmanuel,
psicografado por Chico Xavier, encontramos o seguinte: "O
mundo
material é uma tenda de esforços infinitos, onde fomos chamados a
colaborar com
o Criador no aperfeiçoamento de suas obras". Pode-se ler no
livro "Palavras
de Emmanuel", psicografado por Chico Xavier, que "o
quadro
social que existe na Terra não foi formado pela vontade do Altíssimo;
ele é
reflexo da mente humana, desvairada pela ambição e pelo egoísmo".Noutro
livro – "Pão Nosso" - de Emmanuel, também
psicografado por
Chico Xavier, temos esta lição: "A vida humana, apesar de
transitória, é a chama que nos coloca em contato com o serviço de que
necessitamos para a ascensão justa. Nesse abençoado ensejo, é possível
resgatar,
corrigir, aprender, ganhar, conquistar, reunir, reconciliar e
enriquecer-se no
Senhor".
Um resumo de Ética
Ética, para o filósofo
Sócrates, é o estudo do
procedimento ideal, da sabedoria de viver. Ética é, também, o ramo da
filosofia
que trata da essência, da origem e do caráter da moral; cuida da
consciência
moral e do livre arbítrio. Ética profissional é o conjunto
de
princípios que exige de cada integrante desta ou daquela carreira o
dever moral
de cumprir a lei e atuar com probidade. Ética, na visão do
Espiritismo,
tem sua base na Lei Natural, ou Lei de Deus, ou Lei Moral, nela
estabelecendo-se
a medida da Justiça Divina: "Não fazer ao semelhante o que,
naturalmente, não deseja para si mesmo".
Em "O Homem Integral" (Alvorada Editora,
Salvador, BA,
1996, p.53/46), Divaldo Pereira Franco, pelo Espírito
Joanna de
Ângelis, ao tratar da consciência ética, encontramos que "o
homem é o único ‘animal ético’ que existe. Não obstante, um exame da
sociedade,
nas suas variadas épocas, face à agressividade bélica, à indiferença
pela vida,
à barbárie de que dá mostras em inúmeras ocasiões, nos demonstra o
contrário".
E mostra que o indivíduo deve fazer um mergulho introspectivo
para se
conhecer melhor como um membro responsável da sociedade humana, da qual
sempre
necessita. E, amadurecendo psicologicamente, tal indivíduo assume a sua
parte na
humanidade. Aí, "as ações humanitárias são o passo que desvela a
consciência ética no indivíduo, que já não se contenta com a experiência
do
prazer pessoal, egoísta, dando-se conta das necessidades à sua
volta, aguardando-lhe a contribuição". E complementa: "A
consciência ética é a conquista da iluminação, da lucidez
intelecto-moral, do
dever solidário e humano".
E, nas páginas 99/101, ao falar do ter e
do
ser, mostra que "cunhou-se o conceito irônico de que o
dinheiro não dá felicidade, porém ajuda a consegui-la. Ninguém o
contesta;
no entanto, ele não é tudo". Mas, argumenta Joanna de Angelis
que
"cada indivíduo tem suas próprias aspirações e metas, não podendo
ser
movido, pelo prazer insano ou com bons propósitos que sejam, por outras
pessoas".
E conclui: "A integridade e a segurança defluem do que se é,
jamais do que
se tem".
Portanto, a nossa existência no planeta Terra é uma
etapa de
aprendizado na prática do bem, única forma correta de exemplo e
progresso moral
para os espíritos.Não devemos jamais esquecer dessa realidade. E o
Espiritismo
é, por excelência, uma doutrina ética, embora possa haver quem se diga
espírita
e não procure exemplificar no exercício eticamente cristão... Mas a cada
um será
dado segundo o seu merecimento, nesta e noutras existências.
Questões morais e o egoísmo
Há os que sofrem na vida as mais diversas dores
morais e
materiais, ora envolvendo o analfabetismo, o desemprego, a fome, o
abandono, o
descrédito, as injustiças, o desabrigo, a falsidade, a decepção, assim
como as
doenças, agressões, mortes, arbitrariedades, prisões, castigos corporais
e toda
a sorte de crueldades.
Em "O Livro dos Médiuns", de Allan Kardec
(tradução de Herculano Pires, Editora LAKE, 23ª edição, Capítulo
XXXI –
Dissertações Espíritas – item III), há a manifestação de Jean Jacques
Rousseau, nos seguintes termos: "A meu ver, o Espiritismo é
uma
alavanca que derruba as barreiras da incompreensão. A preocupação com as
questões morais está sendo despertada por toda parte. Discute-se a
política que
desperta o interesse geral; discutem-se os interesses particulares;
despertam
paixões o ataque ou a defesa de personalidades; os sistemas conquistam
partidários e detratores; mas as verdades morais, que são o alimento da
alma, o
pão da vida, permanecem na poeira acumulada pelos séculos".
Dentre as mais graves imperfeições humanas,
destaca-se o
egoísmo como praga social; e ele só "se enfraquecerá com a
predominância
da vida moral sobre a vida material". Logo após a questão 917,
em "O
Livro dos Espíritos", da Allan Kardec (Edição FEESP, tradução de
Herculano Pires), há uma mensagem do Espírito Fénelon,
mostrando ser
necessário combater o egoísmo, "como se combate uma
epidemia. Para
isso, deve-se proceder à maneira dos médicos: remontar à causa. Que se
pesquisem
em toda a estrutura da organização social, desde a família até os povos,
as
influências patentes ou ocultas que excitam, entretêm e desenvolvem o
sentimento
do egoísmo".E reconhece que a cura para esse grande mal – o
egoísmo –
será a educação, "não essa educação que tende a fazer homens
instruídos,
mas a que tende a fazer homens de bem".
Falta de consciência e o efeito paralelo
Se todos os seres humanos seguissem à risca as leis
divinas –
especialmente, a Lei de Justiça, Amor e Caridade -, as leis do Estado,
os
códigos estabelecidos pelos homens, por via legislativa, seriam
desnecessários!
Mas os seres humanos ainda não aprenderam viver fraternal e
pacificamente em
sociedade. Por isso, faz-se imprescindível a Lei Humana, que, ao mesmo
tempo em
que "dá direitos, impõe deveres", a fim de que haja um mínimo de
equilíbrio na
vida social, em todos os cantos deste ‘planeta de provas e expiações’.
Aliás, isso está bem assente na resposta à questão 877, em "O Livro dos
Espíritos". Basta uma breve leitura aos interessados.
Em regra, pelo costume e pela insensibilidade em
relação ao
nosso semelhante, costumamos defender e usar aquilo de que gostamos, sem
a menor
preocupação com os outros, suas preferências, sua contrariedade, suas
alergias,
sua saúde etc. Por exemplo, aos viciados em fumo, bebida e drogas, mesmo
cientes
de que são males perigosos para si e para os outros, quem não os
acompanhe ou
concorde com seus costumes, em geral, são uns "quadrados", "metidos" ou
"chatos". Como se vê, até pelos males de que são acometidos, falta-lhes a
consciência moral ensinada pelos Espíritos do bem. (Aliás,
lembramo-nos
agora das últimas estatísticas da OMS – Organização Mundial de Saúde –,
informando que, anualmente, morrem de câncer cinco milhões de pessoas no
mundo,
sendo a maioria delas por motivo do fumo!).
A propósito, o escritor Ruy Castro, no artigo
"Notícias do fumacê" (jornal Folha de S.Paulo, 23-4-2008, p.
A-2),
noticiou que pesquisadores canadenses, em estudo científico publicado na
revista
"Chemical Research Toxicology", afirmaram que a fumaça da maconha
apresenta mais
substâncias tóxicas do que o fumo comum, verificando-se que um ‘baseado’
de
Cannabis contém "uma quantidade de amônia equivalente a 20
cigarros
comerciais". E argumenta que os fumantes passivos de
maconha
estão sujeitos aos mesmos riscos que os viciados. E, por isso, na
Grã-Bretanha,
em atenção aos alertas dos agentes sanitários, "o governo classificou
a
maconha na lista das drogas perigosas", fazendo-a sair do grupo
C
(de remédios controlados) para o grupo B (das anfetaminas),
significando
"que, a partir de agora, os britânicos apanhados com a erva estarão
sujeitos
a prisão e multa, e não apenas à apreensão".
A propósito da realidade dos fumantes passivos, nos
dias atuais, existe um grande músico e compositor popular brasileiro
que, sem
jamais fumar ou usar drogas, e sem notícia da doença na família, se
descobriu
com um câncer no pulmão, em estado avançado, tudo pelo fato de haver,
por mais
de 30 anos, vivido em estúdios de gravações e em seus corredores,
inalando
fumaça de cigarros de músicos, cantores e outros artistas.
A quantas andam as nossas ações?
Temos agrotóxico em excesso nas verduras e frutas
(alface,
batata, maçã, morango, berinjela, pepino, cenoura, beterraba, banana,
mamão,
laranja, e outras) para evitar prejuízos ao produtor, mas sem a mesma
preocupação com os eventuais danos aos consumidores, que somos todos
nós.
No que tange à poluição do ar e das águas, e com as
cidades
‘ficando nuas’ de árvores, vemos outros maus exemplos: milhares de
empresas
lucrativas, mas que emitem volume insuportável de gás carbônico. Muitas
delas,
inclusive, dando de ombros à saúde da população, têm suas ações e seus
títulos
comercializados nas bolsas de valores, para bons lucros aos seus
adquirentes,
que se lembram apenas das variações em cifras, sem jamais perguntarem a
quantas
pessoas estão ofendendo, direta ou indiretamente!
Não bastassem o abate das baleias, das focas, dos
golfinhos,
das tartarugas, e o despejar de detritos no mar e nos lagos,
verifica-se, por
força da fumaça da grande indústria e das queimadas, que o aquecimento
global
continua, com geleiras se derretendo e os mares crescendo a níveis nunca
antes
vistos, cobrindo pequenas ilhas, invadindo vilas e cidades, desalojando e
mesmo
dizimando pessoas. (E há, ainda, quem se oponha ao trabalho sério e de
abnegada
consciência do movimento "Greenpeace" e de ONGs que lhe seguem os
passos, em
defesa da vida humana e animal sobre a Terra!).
Agora, em razão das dificuldades dos combustíveis
fósseis e
de sua carga poluidora, descobriu-se a fonte renovável dos
biocombustíveis - que
já não precisam apenas de conhecimento tecnológico para a
sua
produção, mas também de análise lógica, a fim de não haver
risco,
presente ou futuro, de escassez ou falta de comida para o povo! (Porque
de nada
vale ter uma geladeira, um fogão e um veículo com a melhor tecnologia,
se não
houver alimentos abundantes e saudáveis para os seus contentes
possuidores!).
Do que trata a Ecologia?
Tudo que se relaciona aos organismos vivos e ao seu
"habitat" é objeto de estudos da Ecologia. Aliás, em sua
origem
grega, essa palavra – ecologia – liga-se ao lugar onde alguém mora,
significando
o lar ou a casa. Os estudiosos dessa matéria pesquisam o modo de vida
dos seres,
os meios de que dispõem na natureza, a influência entre a flora e os
animais,
analisando os elementos físicos e químicos, preocupados com a
preservação dos
bens materiais, visando ao equilíbrio das espécies. Destarte,
considerando que a
Terra, como um todo, representa um grande ecossistema, a Ecologia
tem a
finalidade de concentrar estudos e preocupação nas atividades dos seres
humanos,
a fim de todos usem corretamente os recursos que a natureza lhes põe à
disposição.
Infelizmente, é ainda o ser racional – o ser humano, e
não os
animais irracionais – que pratica ou aceita atos desastrosos contra o
ecossistema do planeta. Temos ouvido falar e também lido a respeito de
problemas
como desflorestamento, desertificação, extinção de espécies animais e
vegetais,
deteriorando as águas, destruindo a camada de ozônio e tantas outras
tristes
realidades, tendo como causadores, por motivo de egoísmo, guerra,
revoluções,
vaidade ou ignorância social, os próprios seres humanos, que se dizem
‘civilizados’.
Observe-se que os animais não canalizam esgotos para
os
mananciais de água potável; não fazem campeonatos de caça e pesca,
sacrificando
criaturas da natureza em busca de troféus; não realizam queimadas sobre
vegetais
e seres vivos; não experimentam artefatos mortíferos nos mares e no ar,
disseminando a poluição; não devastam as selvas, sem controle, em busca
de
lucros; não lavam calçadas ou quintais com água tratada, cloretada e
fluoretada,
enquanto muitos não podem sequer tomar banho por falta do líquido e
alguns até
sofrem sede... Somente os seres humanos, "seres racionais e
civilizados", muitos
dos quais diplomados, formalmente intelectualizados, fazem tudo isso e
muito
mais! São "túmulos caídos por fora...".